Ainda bem que chegaste… Há tanto tempo já te tinha mandado chamar. Enquanto esperei por ti aprendi a receber-te. Bem-Vinda cá a casa! Tenho o teu quarto pronto há muito tempo, no desejo de ter-te cá, o teu lugar à mesa está reservado desde o princípio. Sabia que virias… Foi a Esperança quem mo disse pela primeira vez, e a Confiança confirmou logo.
Oh Paciência, que rosto sábio tens. E sereno, também. Desde que chegaste, não deixo de olhar-te, mirar o jeito com que fazes todas as coisas, como te moves, como falas, como te mudas daqui para ali, como pedes, como dás e como esperas… Tudo em ti transpira delicadeza e calma, mas sem nada de débil nem passageiro. Obrigado por teres vindo.
Não vás mais embora, está bem? Preciso de ti cá em casa. Sabes o que faço, o que vivo e o que procuro. Não te parece que preciso de ti?! Preciso que estejas comigo sempre que anuncio a Boa Notícia de Jesus (a Ruah me domine para que seja sempre e só a Boa Notícia de Jesus) para que me comporte como um verdadeiro discípulo do Nazareno, um Semeador de Palavra que não fica preso à terra em que lançou a semente para ter a recompensa dos frutos.
Preciso que estejas comigo também quando as provas da Confiança e a hora do Testemunho não vêm pedidas pelas palmas vazias de mãos abertas, mas exigidas pela ponta de uma espada… Preciso de ti nessa prova e nessa hora, oh Paciência, para assentar os pés na promessa do meu Jesus: “Nessa hora, não vos preocupeis com o que haveis de dizer nem prepareis a vossa defesa, porque o Espírito Santo falará por vós!” (Mt 10, 19-20)
Que bom que vieste… Nunca me senti tão tranquilo, confiado e feliz como desde que te tenho cá em casa. As nossas pressas dão cabo de nós! As impaciências são um pau de dois bicos que acabam sempre por ferir alguém e ferir-nos a nós.
Desde que chegaste já me ensinaste a ver o tempo de outra maneira totalmente diferente. Mostraste-me como ele é fugaz, e por isso há sofrimentos que não vale a pena assumir de tão passageiros que se tornam. Quando tu e a Esperança se põem à conversa longamente, no fim das refeições, enquanto eu levanto a mesa, o meu Coração exulta sempre com o que vocês dizem porque saboreio dentro de mim o que é definitivo e o que é transitório. E todas as coisas pequenas se tornam pequenas, e todas as coisas grandes se tornam grandes! E o “pequeno” e o “grande” não se mede pelas sensações, nem pelo susto, nem pela ilusão das aparências, mas por aquilo que cada situação tem de passageiro ou de definitivo. Tudo fica tão diferente…
Passas tempos infinitos à conversa com a Esperança, e já percebi que és a melhor amiga da Confiança. Elas até revelaram umas quantas novidades de si próprias que eu não conhecia, desde que chegaste. Tantas coisas bonitas tens feito, Paciência… Muito Obrigado por teres vindo!
Vai lá assentando de vez, está bem? Vejo que ainda não desfizeste as malas todas, ainda não arrumaste o quarto mesmo ao teu jeito, ainda está como eu to preparei. Vá lá, Paciência, quando acabares essa conversa com a Esperança e depois de dares o teu passeio pelo jardim com a Confiança, desfaz lá o resto das malas, acomoda-te, põe tudo ao teu jeito, como quiseres, e fica de vez, está bem? Podes mudar o que quiseres. Arrasta os móveis, não tenhas medo do barulho nem de riscar o chão, não tenhas medo, que eu permito-te tudo! Põe fora o que não gostares e manda-me buscar o que preferires. Põe-te à vontade, por favor, e fica para sempre comigo.
Pe. Rui Santiago